6.12.2008



Jamais quero perder essa capacidade de me maravilhar com as coisas que não conheço. Essa consciência inesperada de que existe tanto. Existem novas descobertas. Existem novas sensações. Aquele momento que é como a tachinha no mapa marcando que eu estou ali. Aquela sensação de que sim o mundo está acontecendo apesar de mim. Aquilo que me põe em contexto. No contexto de um grupo, um grande grupo. Não é simpelsmente uma descoberta bonita. É aquela descoberta de um novo sabor que então faz parte e existe.

Eu nunca achei que me interessaria por arquitetura, mas como flaneur em Paris fui ao Institute du Monde Arabe. De longe notei aquele prédio quadradão, e as janelas como que estamapdas de motívos árabes. Mais de perto perccebi que não eram estampas. E já dentro, tão perto que não era normal, entendi aquelas estruturazinhas de ferro que compunham pequenas mandalas em cada uma daquelas janelas que antes eu tinha entendido simplesmente como estampadas. E aí, de repente, tinha um tal de Jean Nouvel, arquiteto premiado, no meu repertório de referências e maravilhas.

Um pouco antes eu estava desgarrada, andando por Barcelona, na direção da Catedral Gótica, para relembrar a memória de quando há oito anos eu entrara numa constução tão capaz de criar fantasias e realidades ao mesmo tempo. Mas agora eu encontrava era um simples acordeonista, músico de rua tocando em uma esquina do bairro gótico, onde as paredes da catedral forneciam a acústica perfeita para uma música que me fez parar. Parar, sentar na mureta e ficar ouvindo, fumando três cigarros, esquecendo dos planos. Até que ele parou de tocar, recolheu as moedas, recebeu os aplausos, e foi embora.

E pra quem sabe de mim o suficiente para achar que esse é um texto de nostalgia da decepção, digo, esclareço e reafirmo: essas sim são as memórias perenes daqueles 15 dias inesperados no velho continente.

Pois entre tantas outras coisas que não quero perder, jamais quero perder memórias. Esquecer, talvez. Mas não perder as memórias.

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